terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lembremos Maiakoviski


Um poema, creditado a Vladimir Maiakoviski, já dizia: “Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada....”.
Estamos assistindo diversas ingerências governamentais em liberdades básicas, individuais e coletivas, que mais parecem atos ditatoriais.
Há poucos dias o novo estatuto do torcedor, trouxe algumas proibições de manifestação nos estádios de futebol, que constrangem os amantes do esporte bretão, no país de maior popularidade.
Não vejo com bons olhos a proibição de xingamentos coletivos e outras manifestações populares, que tem como objetivo fundamental, extravasar ansiedades e acalmar o homem de suas preocupações cotidianas.
Os coros entoados pelas torcidas, sejam organizadas ou não, mais parecem uma terapia coletiva que amaina as preocupações modernas.
Entretanto, vem o governo e as proíbe, sem levar em consideração a cultura popular.
Depois veio a intromissão direta em nossos lares, quando da edição de norma complementar ao Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda não aprovada, proibindo a “palmada educativa”, quase que a nivelando as torturas medievais.
Que me desculpem os especialistas na área da educação, mas não vislumbro arbitrariedade no ato de censurar uma criança com uma palmada. Fui educado por meus pais sem o uso de violência, mas confesso que cometi alguns deslizes, próprios da idade em que estamos formando nossa personalidade, que sem sombra de dúvida mereciam um ato mais severo de meus pais.
Não houve a participação dos mais diversos segmentos da sociedade, no debate democrático para a edição da norma.
Agora, somos surpreendidos por norma ditada pela justiça brasileira, que “criminaliza” os programas de humor, e vejam bem, somente os televisivos, que abordem sátiras ou outros instrumentos caricatos, aos candidatos à cargos eletivos neste pleito.
Por obviedade que o autor da norma tem a consciência da abrangência da televisão nas camadas populares, que dificilmente tem acesso ao humor impresso nos jornais ou ainda nas emissoras de rádio ou sites da internet.
O que chama a atenção é a balança de valores em legislações que tratam de questões eleitorais. A multa aplicada a candidatos que infringem a lei eleitoral é, na maioria das vezes, de cinco mil reais, já os artistas do humor que contrariarem a proibição, serão multados em cem mil reais, ou seja, vinte vezes a punição aplicada a infratores que hoje são candidatos a se tornarem nossos governantes e legisladores.
Não creio que a intromissão governamental em situações sociais seja de bom tom para uma democracia que ainda engatinha, em busca de valores sólidos, que na maioria das vezes busca se transformar em modelo de legislação para países desenvolvidos.
Claro que não concordo com atos de violência nos estádios nem com ações punitivas às crianças que estão sob a tutela de seus pais, que mais se aproximam do espancamento e da tortura, mas acho que se continuarmos neste caminho, logo teremos monitores e câmeras de televisão em nossos lares, vigiando nossa conduta familiar, quase como os olhos do Grande Irmão, profetizado por George Orwell em seu livro 1984.
O pior de tudo é ser complacente com a censura imposta pelo judiciário. Se aceitaramos calados a proibição do humor eleitoral, estaremos a um passo de aceitar a censura prévia sobre noticiais dos atos dos poderes da república, sejam eles legais ou arbitrários, populares ou impopulares.
Estejamos atentos, pois, citando novamente Vladimir Maiakoviski diria: ”Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada.”
Um fraternal abraço.

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