segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

"AO VENCEDOR AS BATATAS"

“Ao vencedor as batatas...”

Desculpem meus colegas de farda, mas não posso compactuar com a divulgação indiscriminada de fotos de bandidos mortos em ação policial.

A polícia que decidi servir, em nome do Estado que protegemos, não pode vangloriar-se de seus atos letais..... necessários por justa defesa é verdade, mas letais.

A divulgação de fotos de mortos atinge a sociedade em sua curiosidade mórbida, mas também fragiliza a recente imagem de cidadania e direitos humanos, imagem esta que tem a tendência de consolidação em substituição ao modelo truculento, de uma polícia despreparada, mal instruída e à margem da sociedade democrática.

Não questiono a brava ação de nossos colegas, muito pelo contrário, pois graças a suas ações, preservaram vidas inocentes e mais importante, preservaram suas vidas conquistando o direito de retornarem a seus lares, junto aos seus familiares que diariamente rezam para que voltemos vivos.

Não interpretem como se eu estivesse tentando impor meu modo de pensar, até porque a rede mundial é território livre e democrático não carecendo de regras e dispensando qualquer tipo de censura, simplesmente discordo.

E antes que digam que sou muito novo para entender as “glórias da morte do inimigo”, digo que os mais de 23 anos de serviço, em atividades operacionais urbanas e rodoviárias, levaram-me ao entendimento de que toda a vida tem seu valor e que a morte jamais será bela, inevitável por vezes, mas bela nunca.

A vida tirada em confronto legítimo, compromissado por juramento na formação policial militar (defender a sociedade mesmo com o risco de minha própria vida) não nos autoriza a simplesmente tripudiar sobre a morte de qualquer ser-humano, independente de seus desvios sociais ou índole marginal que o levam a este fim.

Se a cada morte perpetrada por ação legítima da polícia militar, braço armado do Estado, permitirmos a divulgação de fotos, como a cabeça de uma presa abatida, jamais mudaremos o conceito que alguns segmentos sociais têm de nossa instituição, têm de nossa profissão.

Somos policiais e não justiceiros de filmes hollywoodianos.

Se preciso for, ceifaremos vidas, até porque o Estado assim nos autoriza quando do estrito cumprimento do dever legal, mas expormos a violência inconsequentemente, não nos leva a lugar algum, só nos recoloca no antigo patamar da imagem de policiais militares arbitrários e truculentos que, a duras penas, tentamos mudar buscando sempre nossa valorização profissional e reconhecimento por nossa formação técnica com respeito à pessoa e aos direitos individuais.

Mais uma vez parabenizo nossos colegas que participaram da ação na serra gaúcha pedindo a Deus por suas recuperações físicas. Que possam confraternizar o ano novo junto aos seus familiares que sorriem por seus retornos, mas nunca esquecendo que, de outro lado alguém chora pelo “marginal” que morreu quando escolheu o confronto com a Brigada Militar, e esta dor deve ser respeitada, ou estaremos descendo ao nível da barbárie.

"Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas". Machado de Assis.